Mesmo os cristãos, cada qual tem
seu jeito próprio de se relacionar com o sobrenatural e com seu deus. Estando a
recitar o mesmo salmo, ou a mesma prece, cada qual vivencia um aspecto muito
pessoal e nem sempre comum aos demais.
Assim também no campo dos sentimentos, cada qual tem seu jeito de
expressar seu carinho e sua ternura, seu amor e sua afeição. Acontecem até
certas situações constrangedoras no relacionamento quando começa querer
comparar a delicadeza de um com a delicadeza do outro, o abraço de um com o
abraço do outro, o carinho de um com o carinho do outro.
E assim vão se multiplicando as
comparações e os modos a tal ponto que poderão até criar um estranho ciúme
quando não o rompimento de um relacionamento que, aparentemente, parecia ser
bastante sólido e promissor.
Entrando no campo espiritual é
importante analisar certas atitudes e certos comportamentos que vão definindo o
modo de conceber a fé e a maneira de vivenciá-la. Muitos são aqueles e aquelas
que simplesmente escolhem um determinado número de devoções e passam a vida
inteira orando e se alimentando delas.
Dificilmente aceitam mudar. Mais
dificilmente aceitarão as mudanças que vão acontecendo nas liturgias e nos
ritos das mais diversas igrejas e agrupamentos de fiéis. Não vêm com bons olhos
o diferente e o novo. Não conseguem sair de seu compartimento. Não conseguem
pensar em ser criativos e assumir o risco de se renovarem e atualizarem.
Torna-se difícil organizar uma
comunidade orante. Torna-se difícil orar em comunidade. Cada qual prefere ficar
com suas devoções e seu sistema de comunicar com Deus. Às vezes fico a pensar
que Deus deverá até se desdobrar para acolher e ouvir tantas maneiras de orar e
de expressar sentimentos os mais variados e originais.
Por outro lado, existem aqueles e
aquelas que conscientemente, ao descobrirem novas maneiras e novos caminhos, se
solidarizam com os demais e passam a criar fraternidades de fé e vida. Alegres
e entusiastas abraçam a causa nobre dos que se propõem constituir uma Igreja
sempre atenta aos desafios e sempre aberta ao novo.
Uma Igreja feita de seres humanos
limitados em seu entendimento, mas decididos em abrir novos caminhos e novas
perspectivas no campo da fé em sintonia com a razão. Não fecham possibilidades.
Abrem horizontes. Desbravam novos caminhos. Constroem novas pontes para unir
crenças e civilizações.
Não pensam em cansaço. Não temem
dúvidas. Não admitem incertezas. Cultivam possibilidades. Amam o mistério e o
desvendam progressivamente até chegar a celebrarem o ágape de uma comunhão
consciente entre o humano e o divino.
Frei
Venildo Trevizan
Nenhum comentário:
Postar um comentário